«Heidegger deixou-a acreditar que seria capaz de encontrar a felicidade com outro homem enquanto ainda o amava a ele. Aos vinte e dois anos, Arendt não estava à altura da «raposa», como mais tarde o apodou. Ele pedia-lhe fotografias para poder lembrar-se dos tempos em que Hannah se sentava nas salas de aulas, como se a partida dela tivesse tido poucas ou nenhumas consequências. As estrofes líricas quase kitsch, os versos vibrantes de paixão, devem tê-la deixado incerta e atenta ao desejo dele. A linguagem de Heidegger espelha a mudança que sofreu quando a razão deu lugar à paixão. As suas primeiras cartas eram escritas em prosa sofisticada, mensurada, bem urdida. As cartas posteriores dão a ver uma sentimentalidade convencional ou mesmo um gosto vulgar, exibem a linguagem desinibida da emoção desenfreada.
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No início de 1928, Heidegger tomou a sua decisão. Num encontro combinado com Arendt em Heidelberga em Abril, disse-lhe que a relação não podia continuar. No início do ano, o seu antigo professor e defensor inabalável, Edmund Husserl, informara-o confidencialmente que, após prolongadas deliberações e com o seu apoio entusiástico, Heidegger fora nomeado Professor Ordinarius (professor catedrático), herdando a cátedra de Husserl na Universidade de Fridburgo. Aos trinta e nove anos, tendo já publicado Ser e Tempo, Heidegger estava no auge da sua carreira. Talvez pensasse que a descoberta da relação com Arendt representava um perigo pessoal demasiado grande.
No início de 1928, Heidegger tomou a sua decisão. Num encontro combinado com Arendt em Heidelberga em Abril, disse-lhe que a relação não podia continuar. No início do ano, o seu antigo professor e defensor inabalável, Edmund Husserl, informara-o confidencialmente que, após prolongadas deliberações e com o seu apoio entusiástico, Heidegger fora nomeado Professor Ordinarius (professor catedrático), herdando a cátedra de Husserl na Universidade de Fridburgo. Aos trinta e nove anos, tendo já publicado Ser e Tempo, Heidegger estava no auge da sua carreira. Talvez pensasse que a descoberta da relação com Arendt representava um perigo pessoal demasiado grande.
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Mas outra mulher já estava em cena: Elisabeth Blochmann, «liebe Lisi», como lhe chamava, a amiga de escola da mulher, meio judia, catorze anos mais velha que Arendt, com uma carreira académica estabelecida. Em 1927, Heidegger agradeceu-lhe «os dias lindíssimos em Berlim»; em 1928, agradeceu-lhe «por tudo» e citou «volo ut sis» de Agostinho («quero que sejas: ich will, dass du seiest»), como fizera três anos com Arendt. (…)
Mas outra mulher já estava em cena: Elisabeth Blochmann, «liebe Lisi», como lhe chamava, a amiga de escola da mulher, meio judia, catorze anos mais velha que Arendt, com uma carreira académica estabelecida. Em 1927, Heidegger agradeceu-lhe «os dias lindíssimos em Berlim»; em 1928, agradeceu-lhe «por tudo» e citou «volo ut sis» de Agostinho («quero que sejas: ich will, dass du seiest»), como fizera três anos com Arendt. (…)
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[Como se tivessem roubado do bolso-de-peito duas ou três moedinhas que nos ofereceram ].
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«Que estupidez a minha ter-me esquecido de confirmar as tuas cartas. Recebi-as todas e “confirmo” que as recebi com todo o coração», respondeu Blücher, brincando com ela. «Pensei que não tinhas gostado da minha carta», escreveu Arendt, «e que fosse por isso que não escrevias». E foi só quando Blücher escreveu: «Amo-te, querida», que Arendt respondeu cautelosamente: «Querido, acho que te amo». (…)
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Acreditava que Heideggeir a amava, mas também a humilhava, cercava-a implacavelmente, só lhe restando a ela «esperara, esperar, esperar».
Acreditava que Heideggeir a amava, mas também a humilhava, cercava-a implacavelmente, só lhe restando a ela «esperara, esperar, esperar».
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Aos trinta anos, Hannah era um precipitado de inibições e medos, desconfiava dos sentimentos de Blücher. Entrou aos poucos nessa nova relação com grande cautela, suspeitas e incertezas. O elo mais resistente da relação, a amizade, foi crescendo apesar das reservas de Arendt e graças à convicção obstinada de Blücher de que os dois estavam destinados a ficar juntos (…).
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Nas cartas que escrevia, Blücher era caloroso sem ser sentimental, era experiente sem cair no despotismo ou na condescendência, respeitava a inteligência e a autonomia de Arendt, preocupava-se com ela mas não era ciumento nem dominador. «Nunca soube o que é pertencer incondicionalmente a uma outra pessoa», escreveu ela. E dois dias mais tarde: «Sinto-me tão segura no teu amor… E amo-te profundamente, impetuosamente e com muito carinho.» Comparadas com as cartas de de Heidegger, sufocantes, desconfiadas e muitas vezes ponderosas, as cartas de Blücher eram uma lufada de ar fresco.
Nas cartas que escrevia, Blücher era caloroso sem ser sentimental, era experiente sem cair no despotismo ou na condescendência, respeitava a inteligência e a autonomia de Arendt, preocupava-se com ela mas não era ciumento nem dominador. «Nunca soube o que é pertencer incondicionalmente a uma outra pessoa», escreveu ela. E dois dias mais tarde: «Sinto-me tão segura no teu amor… E amo-te profundamente, impetuosamente e com muito carinho.» Comparadas com as cartas de de Heidegger, sufocantes, desconfiadas e muitas vezes ponderosas, as cartas de Blücher eram uma lufada de ar fresco.
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Arednt precisou de algum tempo para se acostumar à ideia de que podia conciliar o amor com a sua própria identidade, já que anos a fio teve de abdicar do último termo a favor do primeiro, vivendo sempre desencontrada de si mesma. Blücher mostrou-lhe que esta abdicação era incompatível com o amor e a amizade. «Finalmente», disse ela, «sei o que é a felicidade». Lentamente, aprendeu que o amor, mesmo o mais apaixonado, pode ser destrutivo quando se isola da realidade da vida e se centra apenas na pulsão sexual ou no exercício do poder. E era sem dúvida esta a experiência do amor. »
Arednt precisou de algum tempo para se acostumar à ideia de que podia conciliar o amor com a sua própria identidade, já que anos a fio teve de abdicar do último termo a favor do primeiro, vivendo sempre desencontrada de si mesma. Blücher mostrou-lhe que esta abdicação era incompatível com o amor e a amizade. «Finalmente», disse ela, «sei o que é a felicidade». Lentamente, aprendeu que o amor, mesmo o mais apaixonado, pode ser destrutivo quando se isola da realidade da vida e se centra apenas na pulsão sexual ou no exercício do poder. E era sem dúvida esta a experiência do amor. »
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in Hannah Arendt e Martin Heidegger, de Elzbieta Ettinger.
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Um comentário:
Que doce leitura.
Obrigado por compartilhar (=
:*
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