"New York Movie", 1939;
Edward Hopper.
Nevoeiro matinal: av. da república. 4ª paragem. frente ao Galeto. transversal da João Crisóstomo. Hora: a de sempre. Destino: M.N.A.A. Motivo: Paulo Henriques. Assunto: exposição sobre o tapete oriental em Portugal. Faltavam 12 minutos p/ a reunião. Vontade: nula. Nervos: muitos. e o 14 que não chegava... "está retido no campo pequeno há bem mais de quinze minutos" - diz alguém que também o esperava, já irritado. Acotovela-a. "este quer conversa...". pensa. "mais cinco minutos e chamo um táxi". mas a vontade era nula. "antes chegar atrasada... poupo-o do discurso, apresento o projecto e saio" . os ânimos exaltam-se na paragem. "parecem um bando de inquisidores. devem ser sobrinhos chamuscados de hugo chávez". murmura entre si. finge-se de indiferente, não tece qualquer comentário. não lhe apetece lançar mais achas para a fogueira. "pobre motorista, nem sabe o que lhe espera". afasta-se. Desliza os olhos para o chão, e começa a contar as pedras da calçada. "parece um jogo de xadrez". com os olhos, segue o carreirinho de formigas, "como é que conseguem andar sem meias, nem luvas com este frio...?". umas jantes metalizadas raspam na berma. "hey! tome atenção!". afasta os pés. não os apanhou por pouco. não eram as jantes do 14. eram as das rodas do carro que o príncipe encantado conduzia. 100 cavalos. um SsangYong Korando. detestava esse jipe. detestava essa marca e odiava "carros chineses", dizia chineses, mesmo sabendo que não se tratava de uma marca chinesa, mas japonesa. gosta do japão. ama o japão. odeia a china. e chinesices. e tudo quanto se possa parecer de chinesices. (não é racista ou xenófoba, sublinha). o que não gosta é de chinesices. portanto, "sangyong" chinesice será. justifica-se. não gosta de sangyong, mas aceitou a boleia. No interior. com os vidros fechados ouvia-se uma "música sorridente". Gostas? não conheço, desculpa... É feliz, não é? tem xilofones, é bonita. É feliz! sim, induz a felicidade. A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval Não gosto do brasil, mas gosto de Vinicius. Preciso destas máscaras melodiosas. Pois a felicidade... Shuu, ouve. vais para? restelo. deixo-te... nas janelas verdes, se não causar transtorno... tens tempo? para quê?... para quem? para mim. não muito. não tens, para nós? não devia. gostas de mim? não tão pouco quanto gostaria. (...)Entraram no salão de chá verde seco, na praça fronteira ao m.n.a.a. Serviu-se duas vezes do chá branco polvilhado de folhinhas de camomila. Gostas de camomila? é relaxante, acalma-me. preciso para esta manhã... porque te ris? vens aqui todos os fins da tarde e bebes sempre a mesma infusão de camomila. a escolha do chá branco de hoje foi. apenas para.. não me tomes por stressada. defende-se. nunca reparaste em mim? nunca te vi, sequer... porque perguntas? ... vi. claro que sim, que te vi, se não te tivesse visto, achas que teria aceite a tua boleia? gostas de mim? não tão pouco quanto desejaria. (...) Segredaram em silêncio as palavras que os olhos não conseguiam silenciar. segredar. 9h:30m. em ponto. sem se esforçarem por esgueirar a cumplicidade do sorriso, esconderam o relógio no bolso do peito, abafando o tique-taque-do-bater-do-coração. Levantaram-se e finalmente...
(...)
ela sente no seu braço o toque de uma mão nervosa que anseia por uma resposta. -... Desculpe?! Perdão, queira desculpar-me, em que posso ajudar o senhor...? o 14, onde fica? o lugar 14...? esse, é de lá do fundo, faça o favor de me acompanhar. (...) segunda fila, a "b", o terceira lugar do fundo, o único disponível. obrigado!
[...]
Afinal, nem figurante, nem coadjuvante, nem secundária,
... quanto mais personagem principal.
[...]
- Ah, esqueci-me de lhe avisar: desligue o telemóvel, sim... já desliguei.
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[ao som d' A Felicidade , cantada em inglês, para fingir que nem me apercebo do teor da letra.
na versão do outro. a original. para me decifrar ...]
3 comentários:
Tão desconcertante que para eu tentar perceber o conteudo até li separadamente, como texto unico as frases/palavras escritas a cores diferentes! :D
...
fred, se nem eu pópria consigo perceber(-me), quanto mais tu...
tudo o que vou escrevinhando é bidimensional, inócuo, e desidratado, vazio, sem conteúdo, portanto não te canses a ler(-me). é como chover no molhado...
[a variação do colorido foi a solução mais prática e razoável, menos inteligente, que encontrei para diferenciar os diferentes "protagonistas" (este, aquele e aqueloutro) desta modestíssima, quase paupérrima, sub-estorieta.]
ah, mas obrigada pela visita...
claro
;)
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