« Acordar de noite. Não sentir a dor. Ficar quieto. À espera da dor.
Respirar devagar. Abrir os olhos. Primeiro um, depois o outro.
Fechar os olhos devagar. À espera da dor. Tu a chegares e depois a partires,
a ires e a vires, a nunca ficares. Acordar de noite. A meio da noite.
Ninguém a teu lado. Um braço, uma cabeça, um colo.Sem te mexeres.
Não vale a pena. Ninguém a teu lado. Um braço, um sopro, um gesto.
Ficar quieto. Não vale a pena mexer o teu corpo, como se ainda fosse o teu.
Ali a meio da noite.À espera da dor. Enquanto não vem, a pensar que não vem,
que não há-de vir, melhor assim. Que vens e vais e nunca chegas para ficar, nem a partir.
Não vale a pena esperar. Pelo menos esta noite a dor não vem. Sorrir.
Abrir os olhos devagar. Primeiro um, depois o outro. Continuar a sorrir.
Até a luz chegar. Até chegar. Continuar a sorrir. Até voltar a doer.»
in Do Mal o Menos, do [m]eu Pedro Paixão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário