...e esgravata.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

farmakón.






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- a arte salva?

- eu acho que a arte pode salvar o criador (...); durante o processo [de criação] ele [ o artista] estará salvo. é um processo de magia entre o leitor, ouvinte ou espectador. se "a arte salva?"... hum..., quer dizer eu... a arte não salvou os seis milhões de judeus que morreram, nem os quinhentos mil ciganos, nem os duzentos e cinquenta mil deficientes. a arte é solidária, a arte é memória e a arte é fantástica mas não é um substituto para a luta contra o mal.
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[silêncio]
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- ...joão...?

- há bocado quase disse o contrário, a arte também mata. e as duas coisas acho que também são verdade: pode salvar, pode matar...

- mas quando é matar no sentido a que aludia, Mozart tinha a bomba atómica e não a usou.

- no caso do artista, ou mesmo do leitor que tem presente na memória esses textos ou essa música pode ser perfeitamente decisivo; é como ter ou não ter o cantil quando se atravessa o deserto, mas há um limite. o cantil só vai até metade do deserto e depois... acabou. só vai até ali, chega.

- e agora pergunto-vos: esta ideia da arte como redentora, mais do que perversa pode ser letal no sentido em que se cai dentro da literatura ou quando se cai para dentro da literatura, ou quando se cai para dentro da música no sentido figurado como é evidente, ou não figurado,( acabaram-me de me dizer ambos que se pode estar em casa num 'ghetto' só porque se está a ouvir Bach)... isto pode conduzir à paralezia, à letargia... ... hum, não sei.

- sim a arte funciona como droga também e que dependendo da dose pode ser boa, ou má. é um fármaco, a ideia...

- um ópio!!

- um "ópio"...hum...em certa medida, sim, também. em certas circunstâncias. e a própria arte essencialmente sendo força, um alimento de primeira necessidade (...). mas também pode ser letal, como disse, alguns compositores tinham a consciência disso (...) Mahler tinha medo do potencial destruidor da música.
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Fotogramas:" The Pianist", 2002, e "La Pianiste", 2001, de Polanski e Haneke, respectivamente.
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jaz.mim_tu... aqui, deixara de o ser.

à espreita de fa|c|to & gravata.

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