...e esgravata.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

espelho d' água.

«'Andorinha,andorinha,minha andorinha', pediu o príncipe uma vez mais,'fica comigo mais uma noite'... Durante todo o dia seguinte, a andorinha ficou sentada por sobre o ombro do príncipe, contando-lhe histórias do que tinha visto em terras distantes.Falou-lhe dos íbis vermelhos, que permanecem em longas filas nas margens do Nilo e que apanham peixes dourados com os seus bicos; falou-lhe da Esfinge, tão velha como o próprio mundo, que vive no deserto e que tudo sabe; falou-lhe dos mercadores, que caminham vagarosamente junto dos seus camelos e levam nas suas mãos colares de âmbar; falou-lhe do Rei das Montanhas da Lua, que é preto como o ébano e venera um grande cristal, da grande cobra que vive nas palmeeiras e que vinte sacerdotes alimentam, com bolos de mel... Por fim chegou a neve e com a neve veio o gelo. As ruas pareciam feitas de prata, de tão lisas e brilhantes que estavam; como punhais de cristal os sincelos enfeitaram os beirais das casas... Até que um dia a andorinha soube que ia morrer. Apenas lhe restavam forças para voar uma vez mais até ao ombro do príncipe. 'Adeus querido príncipe!', murmurou, 'deixas-me beijar a tua mão?'.'Ainda bem que partes finalmente para o Egipto, minha andorinha', disse o príncipe, 'ficaste aqui demasiado tempo; mas deves beijar-me os lábios porque eu adoro-te. 'Não é para o Egipto que eu vou', respondeu a andorinha,'Vou para a Câmara da Morte. Ou não é a morte a irmã do sono?'...» in O Príncipe Feliz , de Oscar Wilde.


[Serigrafia: Couple d'Oiseaux, 195?, Georges Braque.]

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armário.roupeiro: cabides.

jaz.mim_tu... aqui, deixara de o ser.

à espreita de fa|c|to & gravata.

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